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Bebê que não aprendeu a dormir à noite e criança com sequelas de sono

quando estabelecer uma rotina

Eventualmente nós abrimos espaço aqui no blog para guest posts, para que outras pessoas possam escrever sobre assuntos relacionados com a maternidade e também dividam um pouco da experiência com a gente.

O guest post de hoje é de Juliane Dias, que foi nossa cliente, e gentilmente nos mandou esse texto sobre como foi a experiência dela com a privação de sono do primeiro filho.

Por Juliane Dias

Eu sei muito bem as consequências de ter um filho que não sabe dormir sozinho: meu primogênito levou 4 anos para dormir uma noite completa, sem qualquer tipo de interrupção, e eu um pouco mais do que isso. A parte mais difícil da maternidade na criação dele foi sem dúvida a privação de sono. Demorei 10 anos para ter coragem de ter outro filho pois justamente não queria ter que passar por isso novamente.

Durante a gravidez eu já tinha ouvido o famoso “aproveite  bastante para dormir” ou então o “as suas noites nunca mais serão as mesmas”, mas vivenciar isso na pele deu um sentido muito mais profundo a essas frases. Os que são pais, tem de vergonha confessar que em alguns momentos chegaram a se arrepender da “enrascada” da missão de criar uma vida. Mas quem ficou sem dormir à noite por meses ou anos com qualidade deve fazer esse questionamento mais vezes na sua vida.

Cheguei a ter raiva de ouvir  a expressão “dormir como um bebê” ou o comentário “aproveito a soneca da tarde para fazer tudo que preciso”. Mas o objetivo de falar do assunto aqui não são as consequências para a minha saúde e bem estar, nem do meu marido.  Sobre a gente, vou resumir e contar que vivenciamos a exaustão extrema nos dois primeiros anos de vida, pois afinal de contas, tivemos noites em que os despertares eram de hora em hora! Eu não entendia por que as pessoas falavam que era tão gostoso e que eu tinha que curtir esta fase de bebê que passava rápido, se ela mais parecia um pesadelo. Li muitos sites e livros e ouvi conselhos, sem solução. Ele era o bebê do “berço de espinho”. Falta de paciência e ansiedade foram muito presentes em nossa vida e se não fosse enorme amor e encanto que sentimos por ele, teria realmente sido um trauma insuperável.

A parte mais dolorosa da história e que gostaria de compartilhar é pensar no que ficou para o meu filho, uma vez que na intenção de fazer o melhor, sempre dávamos suporte para ele adormecer. De recém nascido, foram horas e horas de colo e várias voltinhas de carro, muitas vezes decepcinantes pois ao colocarmos o bebê no berço, imediatamente ele acordava.  Depois do segundo ano de vida, houve melhora do sono e a frequência de interrupção ficou em no máximo três vezes por madrugada, mas sempre havia alguma razão para acordar pelo menos uma vez: medo de um ruído, suposta vontade de tomar algo, pedir para ir ao banheiro, um sonho ruim ou simplesmente o “não consigo dormir”.

Na escola, que ele começou a frequentar aos 18 meses, chegamos a ser chamados e aconselhados, pois ele se recusava a dormir à tarde com os colegas. Argumentamos que em casa ele nunca dormia à tarde e que não era para insistir, e assim ele foi a exceção do grupo. Soneca da tarde nunca fez parte da rotina mesmo com os olhinhos cheios de olheiras, e nós nunca soubemos o que era uma parada para respirar ao longo de um final de semana, a menos que como rodízio. Era atenção em tempo integral a uma criança aparentemente tímida e assustada, que só queria colo e ficava chorando quando chegavam estanhos, parentes e amigos.

Mais tarde, à medida que ele foi crescendo, fomos dando outros recursos: deixávamos dormir no nosso quarto, contávamos histórias na beira da cama, fazíamos massagens ou dávamos alimentos antes de dormiu ou na madrugada. Ficávamos ao lado dele quando sentia medo no meio da noite até voltar a dormir. Tudo na boa intenção de ajudar o filho a se sentir protegido e ter com quem contar.  É como se na intenção de que ele tivesse boas notas, nós tivéssemos feito a lição de casa todos os dias e ele deixado de aprender o que lhe cabia.

Aos 11 anos enxergo que ele carrega sequelas com respeito ao sono. Ele não sabe o prazer de tirar um cochilo à tarde, por mais exausto que esteja, nem consegue dormir sem uma luzinha acesa. Volta e meia ainda pede companhia para pegar no sono e se cobre com lençol completamente, só deixando o rosto de fora. Os bichinhos ao redor da cama vieram tarde, acho que aos 9 anos, e ainda são necessários. Ele não gosta de pensar em dormir na casa de amigos e nas poucas festas do pijama que participou, voltou com grandes olheiras. Nunca acorda tarde, e mesmo nos fins de semana não dá aquela “esticada”, mesmo que o dia anterior tenha sido de fadiga.

Nosso filho não foi submetido à técnicas de “adestramento” de sono, nem foi deixado chorar para ser treinado e aprender a dormir sozinho. Na época li muito à respeito e desistir de tentar por causa de um texto (que até hoje não sei se era fake) de uma mãe que supostamente deu suporte ao primeiro filho e o segundo deixou chorar, e este último era frio e distante no relacionamento enquanto que o primeiro era amoroso. Me comovi e decidi seguir a tal linha da criação com apego e sem restrição de acolhimento, e hoje questino os resultados.

Me arrependo de não ter tentado ensiná-lo a dormir? Sim! Mas na época não havia coaching e consultoria de sono materno tão disponível como hoje e a jornada me pareceu  solitária e incerta para seguir em frente. O que posso dizer: se somar todas as horas em que meu filho acordou no meio da noite chorando, com medo, angústia e com sono, a carga horária de lágrimas de um treinamento se tornam insignificantes. E o relacionamento tenso que ele mantém com o sono há tantos anos é muito mais importantes que qualquer outro “stress” temporário.

Como eu sei? Tive um segundo filho, consultoria em sono infantil bem sucedida e a possibilidade de fazer comparações. Ainda é cedo para medir os resultados à longo prazo, mas os imediatos são inquestionáveis: bebê alegre e bem-humorado, pais pacientes desfrutando desta linda fase da vida.

Juliane Dias, engenheira de alimentos, mãe do Hilton (11 anos) e do Elton (1 ano). Consultora em segurança dos alimentos, fundadora da Associação Food Safety Brazil. Adora preparar comidinhas para as crianças e aprender com elas.

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