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Guest Post: M-A-E – MÃE… – Por Paula Saretta

M-A-E, com acento fonético til, no encontro vocálico entre A e E, torna-se um som anasalado “MÃE”. Aprendeu? Acho que sim, há um bom tempo… Mas, palavras escritas não são só códigos (no nosso caso, alfabéticos). Palavras possuem significados de dicionários e de “coração”. Toda palavra, para que haja comunicação e o mínimo de entendimento, precisa ter significados estáveis e conhecidos, não é? Todo mundo sabe o que significa (neste sentido) a palavra mãe. Mas, mais do que significados, palavras são carregadas de sentidos. Sentidos que são subjetivos. Sentidos que são construídos, individualmente, singularmente, em cada um de nós.
Mãe todo mundo tem. Mas ninguém tem a mesma mãe. Nem irmãos idênticos, fecundados pelo mesmo espermatozoide. Ninguém tem a sua mãe. Ninguém. Ser mãe ou ter mãe são coisas diferentes também. O que você entende por uma coisa ou outra é sempre singular, do mesmo jeito.
“Dias das mães” se aproximando… Apesar da intenção claramente comercial dos dias de hoje, dizem que a data foi criada em homenagem às mulheres que perderam seus filhos na Guerra Civil americana e que, no Brasil, foi introduzida em 1918, mas só se tornara “mais comercial”, a partir de 1949. Quer dizer, lotada de propagandas e chantagens emocionais para comprar “um presente do tamanho do amor que sua mãe tem por você” ou com apelos, do tipo: “ela merece o reconhecimento de tudo que fez por você com um belo presente”. Hoje, a data se tornou o 2o momento mais animador para o comércio brasileiro. Qual a dúvida de que este apelo emocional daria tão certo? Afinal, “pregamos”, o tempo todo, que amor deve ser retribuído com… presentes! Quanto maior e mais pomposo, mais amor…
Sei que não é intencional (pelo menos racionalmente falando) a ideia de que seja possível “retribuir” por meio de um belo e luxuoso presente, o amor por sua mãe. Ou até a ideia de que isso pode amenizar o sentimento de “culpa eterna”, por não estar ali em alguns momentos que pareciam importantes… Sei também que pode ser, sim, uma bela oportunidade de dar um presente “à altura” do seu amor por ela e que isso, talvez, signifique, concretamente, algo “caro” para você, mas não necessariamente ostensivo.
Deixando de lado as questões comerciais que a data sugere, não há dúvidas de que a data mexe (e muito) com os nossos sentidos de MÃES. Seja você mãe ou não. É inevitável pensar o que você fará no “dia das mães”, criar expectativas, sonhar com uma linda “declaração de amor”, resgatar memórias de infância, agradáveis ou não. Pensar, afinal, nas mães que têm aí dentro de você.
“Minha mãe não é a típica mãe”. “Minha mãe não foi uma boa mãe”. “Minha mãe foi a melhor que conseguiu”. “Minha mãe foi maravilhosa comigo”. Frases comumente ouvidas em sessões terapêuticas de adultos com desejos de entender a si mesmos. Não há como escapar. Para nos entender e nos conhecer, precisamos conhecer nossos sentidos de mães. Se sua mãe estivesse presente na sessão, provavelmente, diria: “não, filho, nunca fiz isso” ou “imagina! Jamais quis magoá-lo naquele dia” e etc… Ou seja, não há, senão, um sentido, uma representação, um modo de enxergar muito particular de quem são as nossas mães.  A sua mãe de quando era criança, de quando era adolescente… A sua mãe do adulto que se tornou. A sua mãe na versão avó, na versão esposa, na versão tia e etc… Tantas e tantas mães! Elas são só suas e ponto.
“Mães falam a verdade!” – algumas orgulham-se em dizer. Verdades? De quem? “Você nunca consegue ser organizado”. “Você é mesmo muito preguiçoso”. “Você é muito inteligente”. “Você é especial”. Vozes (internas) que nos acompanham o resto da vida. Você é isso ou aquilo. Mães têm mania de “rotular” os filhos. Talvez sempre será assim, talvez seja algo inevitável até. Mas, por vezes, os rótulos dizem mais de quem elas são, do que de quem nós somos. Pelo menos, penso assim hoje, já adulta. Pensar assim, hoje, é essencial para mim, pois, não só me liberta de vários desses rótulos, mesmo os positivos, como também e, principalmente, permite a minha reinvenção. Reinvenção constante. Nem eu mesma consigo dizer, ao certo, quem eu sou… Sou tantas, somos tantas… Mudamos tanto…
Como assim? – algumas podem reagir. “Meu filho é especial sim!”. Para a minha mãe (que certamente lerá este post), digo: “não, mãe, não sou tão especial assim”. Ok! Talvez para você sim. Aceito que pense assim. Acho fundamental que pense isso e tenha me criado com amor. Fazer com que um filho se sinta protegido emocionalmente é, para mim, a grande missão das mães. Isso sim é importante. O resto é singular. É de cada um. É o que cada um consegue ser. Sempre será perdoável. Sempre será compreensível.
A negligência emocional é, a meu ver, a única coisa imperdoável para as mães. Não só imperdoável, pode ser, isso sim, devastadora.
 
Paula  Saretta é psicóloga escolar. Doutora em Educação pela Unicamp (2009). Mestre em Psicologia Escolar pela PUC-Campinas (2004), com aperfeiçoamento em Orientação à Queixa Escolar pela USP em São Paulo. Professora universitária e psicóloga escolar e educacional há mais de dez anos. Conheça mais sobre o trabalho da Paula no site Ouvindo Crianças.

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